1 de fevereiro de 2008

REFRACÇÕES


MENINOS DE TODAS AS CORES

Era uma vez um menino branco, chamado Miguel, que vivia numa terra de meninos brancos e dizia:
– É bom ser branco, porque é branco o açúcar, tão doce; porque é branco o leite, tão saboroso; porque é branca a neve, tão linda.
Mas certo dia o menino partiu numa grande viagem e chegou a uma terra onde todos os meninos são amarelos. Arranjou uma amiga, chamada Flor de Lótus que, como todos os meninos amarelos, dizia:
– É bom ser amarelo; porque é amarelo o Sol; e amarelo o girassol mais a areia amarela da praia.
O menino branco meteu-se num barco para continuar a sua viagem e parou numa terra onde todos os meninos são pretos. Fez-se amigo de um pequeno caçador, chamado Lumumba que, com os outros meninos pretos, dizia:
– É bom ser preto, como a noite; preto como as azeitonas; preto como as estradas que nos levam a toda a parte.
O menino branco entrou depois num avião, que só parou numa terra onde todos os meninos são vermelhos. Escolheu, para brincar aos índios, um menino chamado Pena de Águia. E o menino vermelho dizia:
– É bom ser vermelho; da cor das fogueiras; da cor das cerejas; e da cor do sangue bem encarnado.
O menino branco foi correndo mundo até uma terra onde todos os meninos são castanhos. Aí fazia corridas de camelo com um menino chamado Ali-Bábá, que dizia:
– É bom ser castanho; como a terra do chão, os troncos das árvores, é tão bom ser castanho como o chocolate.
Quando o menino voltou à sua terra de meninos brancos, dizia:
– É bom ser branco como o açúcar; amarelo como o Sol, preto como as estradas, vermelho como as fogueiras, castanho da cor do chocolate.
Enquanto, na escola, os meninos brancos pintavam em folhas brancas desenhos de meninos brancos, ele fazia grandes rodas com meninos sorridentes de todas as cores.

Luísa Ducla Soares em Audácia

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