20 de março de 2011

VIOLÊNCIA


© JVieira

O estado de graça do referendo passou e a onde de paz e de festa deu lugar de novo à violência e morte no Sul do Sudão.
No último mês registaram-se uma vintena de incidentes que fizeram mais de 500 vítimas mortais e milhares de deslocados em quatro estados: lutas inter-tribais pelo controlo de terras em Jonglei e Lakes; soldados da componente do Norte do exército unido pelo controlo de armamento pesado depois do desmantelamento da unidade em Malakal; milícias que atacaram povoações em Jonglei; combates entre soldados e milícias em Upper Nile, Unity e Jongle.
A nível político o clima também é de alta tensão: o governo de Juba suspendeu as negociações pós-referendárias com os homólogos de Cartum, acusando-os de financiar e armar as milícias que combatem no Sul e de terem um plano para derrubar o governo de Salva Kiir e pôr no seu lugar uma administração fantoche que pare com o processo de independência.
Entretanto, em Juba a oposição abandonou o comité técnico que está a rever a constituição interina acusando o SPLM, o partido dominante, de não respeitar o princípio de que as decisões são tomadas por consenso e não por maioria.
Aliás, a constituição do comité foi o primeiro chuto no pé do partido maioritário: o grupo de 24 elementos era constituído exclusivamente por ministros e tecnocratas, sem representantes da oposição, da sociedade civil e dos grupos de fé. 
O governo defendeu-se como pôde dizendo que o comité era técnico para rever a presente constituição para guiar o novo país até a assembleia constituinte aprovar uma lei fundamental feita de raiz… 
No final, teve que alargar o comité para mais de 50 elementos, mas deixando de fora a sociedade civil e os representantes religiosos.
A classe política – velha e acomodada – convive mal com ideias novas e com o embate com a sociedade civil pujante e interventiva e a consciência moral dos grupos religiosos.
Entretanto, os bispos católicos propuseram uma campanha de dez passos para a unidade para tentar manter o país unido até à independência que deve ser proclamada a 9 de Julho em Juba.

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