20 de outubro de 2012

MÃOS SOLIDÁRIAS

Mensagem de um comboniano brasileiro
a trabalhar em Leer, Sudão do Sul,

para o Dia Mundial das Missões
que se celebra domingo, 21 de Outubro


Querido povo de Deus da Diocese de Balsas:
Saudações em Cristo, missionário do Pai!
Faz dois anos e três meses que iniciei minha experiência missionária entre o povo Nuer, uma das muitas tribos que compõem a sociedade da mais nova nação do mundo: o Sudão do Sul, na África central. Achei que fosse oportuno partilhar com vocês uma simples mensagem nesse dia em que refletimos sobre o sentido de nossa fé cristã e nossa vocação como igreja missionária.
Quando meus pés pisaram esse chão banhado pelo sangue de centenas de milhares de vítimas da guerra que durou mais de vinte anos, quando vi rostos sofridos, pessoas vivendo em extrema pobreza e situação desumana, quando senti que o ambiente ao meu redor se tratava de uma cultura bem diferente da minha cuja língua é difícil de se aprender, quando compreendi que se tratava de uma missão de primeira evangelização, logo me dei conta de que realizaria uma missão muito difícil.
Devo confessar que me sentir chocado e assustado com essa situação complexa e desafiadora e que constantemente me perguntava o que vim fazer nessas terras tão distantes. Ao mesmo tempo recordava a mim mesmo que não cheguei aqui por conta própria, mas fui enviado como missionário pela igreja da Diocese de Balsas com as bênçãos de nosso bispo diocesano Dom Enemésio Ângelo, e que Deus, que me fez chegar até aqui, me ajudaria a realizar essa missão.
Em sua mensagem para este dia o Papa Bento XVI nos lembra que hoje, como em outros tempos, Cristo nos envia “pelas estradas do mundo para proclamar o seu Evangelho a todos os povos da terra”. A missão, portanto, é de Deus, mas precisa de nossa disponibilidade para realizá-la. Foi com esse espírito que cheguei até aqui e nessas andanças quero dizer que também estou sendo evangelizado. Aos poucos fui abraçando a missão e sendo abraçado por ela através da acolhida, simplicidade, fé e partilha do povo Nuer.
O Papa acrescenta que “o encontro com Cristo como Pessoa viva que sacia a sede do coração só pode levar ao desejo de partilhar com os outros a alegria desta presença e de a dar a conhecer para que todos a possam experimentar”. Diz ainda que “é preciso reavivar o entusiasmo da comunicação da fé, a fé é um dom que nos foi concedido para ser partilhado”. Estou bastante seguro que foi isto que me fez deixar minha família e minha terra para ser um missionário no Sudão do Sul.
O anúncio do Evangelho na missão, como diz o Papa, “torna-se também intervenção a favor do próximo, justiça para com os mais pobres, possibilidade de instrução nas aldeias mais distantes, assistência médica em lugares remotos, emancipação da miséria, reabilitação de quem vive marginalizado, apoio ao desenvolvimento dos povos, superação das divisões étnicas e respeito pela vida em todas as suas fases”. É exatamente isso que eu e minha comunidade missionária procuramos realizar na missão de Leer.
Não posso negar que a missão aqui é difícil e urgente e que precisa de muitas mãos solidárias para realizá-la. Tem muitas dificuldades e desafios de todo tamanho e natureza. Ao mesmo tempo experimentamos e testemunhamos tantas coisas bonitas que somente a vida de missão pode nos proporcionar e que aqui não teria tempo e espaço para partilhar todas.
Nesse Dia Mundial das Missões, em que rezamos pelas missões e pelos missionários e abrimos nossos corações e nossas mãos para partilhar com generosidade com as igrejas que mais necessitam através da coleta missionária, quero agradecer a Deus pelo precioso dom da vocação missionária e pela generosa partilha e orações de vocês. Essa nossa comunhão e solidariedade faz com que a missão seja de fato assumida por toda a Igreja.
Desejo a todos um renovado ardor missionário e muito axé no coração.
Continuem com Deus!

P. Raimundo Nonato Rocha dos Santos

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