15 de março de 2014

REGENERAR AO JEITO DE COMBONI

Daniel Comboni nasceu há 183 anos, a 15 de Março de 1831, em Limone, nas margens do Lago Garda e do império austríaco, no seio de uma família pobre. O pai era feitor. Foi o único sobrevivente de oito irmãos, mas não teve medo de dar a vida por Jesus e pelos africanos, que O encarnavam. 

Deus tem os seus desígnios e fez com que Daniel atravessasse o majestoso Lago Garda e fosse estudar para Verona para a escola do Padre Nicolau Mazza, uma instituição que recebia crianças pobres dotadas. Lendo a história dos Mártires do Japão, aos 15 anos, decidiu ser missionário. Escutando com entusiasmo as descrições do trabalho do Padre Ângelo Vinco entre os Baris, no Sul do Sudão, decidiu ser missionário da África com quase 18 anos.

Começou a cumprir o sonho africano a 14 de Fevereiro de 1858 na missão de Santa Cruz, na margem esquerda do Nilo Branco, entre os Dincas-Kiche de Yirol-Leste. Mas depressa o sonho virou pesadelo: 40 dias depois da chegada o Padre Francisco (Checco) Oliboni morreu e a 15 de Janeiro de 1859 os missionários sobreviventes tiveram que abandonar a missão por problemas graves de saúde. 

Comboni voltou à Europa para digerir a sua experiência amarga. Não se resignou, antes preparou um plano para facilitar a evangelização e o desenvolvimento dos negros da África Central.

Este ano celebramos 150 anos daquilo que nasceu novo projecto para a conversão da África e logo se tornou no Plano para a Regeneração da África. 

No preâmbulo da quarta edição, Comboni escreve: «o católico, habituado a julgar as coisas com a luz que lhe vem do alto, olhou a África não através do miserável prisma dos interesses humanos, mas do puro raio da sua fé; e descobriu lá uma infinidade de irmãos pertencentes à mesma família, que têm nos Céus um pai comum, ainda curvados sob o jugo de Satanás e à beira do mais horrendo precipício. Então, levado pelo ímpeto daquela caridade que se acendeu com divina chama aos pés do Gólgota e, saída do lado do Crucificado, para abraçar toda a família humana, sentiu que o seu coração palpitava mais fortemente; e uma força divina pareceu empurrá-lo para aquelas bárbaras terras, para apertar entre os seus braços e dar um ósculo de paz e de amor àqueles infelizes irmãos seus, sobre os quais pesa ainda o tremendo anátema de Cam» (Escritos 2742). 

O Plano de Comboni propõe uma descentralização da missão africana da Europa para as margens da África, para a regeneração da África através dos próprios africanos pela formação de professores, artesãos e agentes de pastoral (catequistas, padres e mulheres consagradas) que depois de frequentarem escolas à volta da África vão para o seu interior para se tornarem fermento de uma nova sociedade. Comboni advoga a promoção da mulher africana, «da qual, como entre nós, depende absolutamente a regeneração da grande família dos negros» (Escritos 2774) e a cooperação entre as diversas instituições religiosas para tornarem o plano operativo (Escritos 2790).

Fundou o Instituto Missionário para a Nigrícia em 1 de Junho de 1867 e as Pias Madres da Nigrícia a 1 de Janeiro de 1872 para cumprir o Plano, que está agora a ser plenamente concretizado através da Solidariedade com o Sudão do Sul, um grupo de mais de 200 institutos masculinos e femininos que tem à volta de 30 membros no terreno a formar professores, enfermeiros, agricultores e agentes de pastoral. 

Em Julho de 1870, prepara um pedido a favor dos negros da África Central para o Concílio Vaticano I incluir a evangelização do continente na agenda de trabalhos.

A 2 de Julho de 1877 é nomeado vigário da África Central sendo sagrado bispo a 12 de Agosto.

Morre em Cartum a 10 de Outubro de 1881, consumido pelas canseiras apostólicas e pelas febres tropicais.

Durante a sua canonização, há dez anos, o Papa João Paulo II apresentou Daniel Comboni como «modelo de entusiasmo e paixão apostólica», «insigne evangelizador e protector do continente negro» que «empregou os recursos da sua rica personalidade e de uma sólida espiritualidade para tornar conhecido e acolhido Cristo na África, continente que ele amava profundamente.»

A Igreja deu aos institutos combonianos uma parte do capítulo décimo do Evangelho segundo São João para celebrar a festa do seu pai e fundador. Comboni foi um pastor ao jeito de Jesus, o bom pastor que deu a vida pelas suas ovelhas: fez seus os sofrimentos do seu povo e lutou contra os esclavagistas, planeou a regeneração da África, correu a Europa de lés a lés para angariar apoios e operários para a missão africana, combateu a fome, a doença, a miséria e o isolamento da África Central e lançou as bases da regeneração da África através dos africanos. Viveu e morreu pela África, com a África na mente, no coração, na língua e na pena. 

Hoje diz-nos: a cooperação continua a ser a pedra angular da missão, uma cooperação que envolve tudo e todos. E encoraja-nos para não nos assustarmos com as histórias de desgraça e miséria que nos entram casa adentro através dos jornais, rádio, televisão e internet. Antes, que contemplemos o mundo que nos rodeia através do olhar misericordioso de Deus, «à luz que vem do alto» levados «pelo ímpeto daquela caridade que se acendeu com divina chama aos pés do Gólgota e, saída do lado do Crucificado» abraçando com o coração toda a família humana.

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