18 de janeiro de 2015

ITINERÁRIO PRINCIPAL

© JVieira

A narrativa dos primeiros chamamentos de Jesus segundo o evangelista João que a liturgia nos propõe como palavra da salvação para hoje tem um número de pontos intrigantes e relevantes.

O texto evangélico (João 1, 35-42) coloca João Batista parado do outro lado do Jordão com dois discípulos. Ao ver Jesus passar diz: «Eis o Cordeiro de Deus.»

Cordeiro, na pobreza de palavras do aramaico, falado por João e por Jesus, também quer dizer servo, filho e pão! Jesus é tudo isso: cordeiro de Deus, servo, filho, pão repartido para a salvação do mundo.

A evocação de Jesus-Cordeiro de Deus leva-nos ao capítulo 12 do Livro do Êxodo, à cena da ceia pascal. Cada família tinha que matar um cordeiro de um ano sem mancha para marcar a casa com o seu sangue e escapar ao anjo da morte; e comer a sua carne para ganhar força para a longa viagem de libertação. Jesus, o cordeio de Deus, marca-nos com o seu sangue, faz-nos pertença de Deus, tirando-nos do pecado. É também o pão para o nosso caminhar!

Depois, para ver Jesus passar é preciso estar parado! A nossa vida tornou-se num corrupio onde há pouco espaço e tempo para o outro. Temos que parar para ver Jesus passar. E ouvir: «Que quereis?», as primeiras palavras de Jesus no Evangelho de João.

São as palavras que Jesus nos dirige hoje aos que enchemos as igrejas e aos que ficaram em casa. São palavras novas e cheias de memória, de história.

Os discípulos responderam: «Onde moras?» Querem conhecer o Jesus doméstico, queriam ser seus íntimos. Não o convidaram para um copo, para uma conversa fiada, mas quiseram ir a sua casa.

E Jesus responde: «Vinde ver!»

Todos somos convidados a ver onde Jesus vive! Ele hoje vive nos pobres, nos refugiados, nos indocumentados, nos abusados, nos violentados, nos doentes terminais, nos ladrões, nos drogados, nos jihadistas… É aí, nas periferias da sociedade e da história, que somos chamados a ficar com Jesus, a permanecer depois da hora décima, as quatro da tarde, a partilhar a noite…

E de onde regressamos para anunciar: «Encontrámos o Ungido!» e levar outros a Jesus como André, o chamado-chamador, fez com Pedro seu irmão.

E dá-se o milagre do novo nome que é identidade e missão: «Tu és Simão, filho de João. Chamar-te-ás Cefas», pedra esburacada, caverna que dá protecção a quem precisa. Não rocha firme, mas comida pela erosão, pelo tempo.

A rocha firme é o Senhor!

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